domingo, 19 de julho de 2015

Ultra Trail Monte da Lua - que brutalidade...



A semana começava bem... O Filipe (http://quarentaedoispontodois.blogspot.pt) fazia um repost da crónica da sua participação e da do David no ano passado e começavam a fazer-me pensar... Mas ribatejano puro não vira as costas e pega o boi pelos cornos. Depois uma entrevista do Paulo Garcia ao Correr na Cidade, em que me marcou apenas uma frase:"Os menos preparados terão à sua espera desespero e um desgaste físico enorme"... Mas já lá vamos!

07h30 e chegamos à Praia das Maçãs. Muito movimento, tempo para um café e esperar que chegue o resto da malta. Equipamo-nos, tiramos a foto da praxe e vamos para a praia.


João Lino, João Jacinto, Marco Domingos, Alexandre Fernandes e Susana Mauricio - o contigente salvaterrense 


Troca-se umas palavras com alguns amigos (Romeu Colaço, gostei de te ver!!!), e toca a perfilar para concentrar na meta. Algumas instruções do Paulo Garcia e toca juntar mais de 200 ultra malucos para dar a partida. Do nosso contigente apenas eu alinhei nesta distância, ficando o resto do pessoal quinze minutos à espera para a partida dos 20+ (que eram para ser 26 e depois foram 28!). 

O David Clemente (também conhecido por papparazi ribatejano) lá fez o favor de tirar um retrato para a posteridade e depois toca a concentrar para a partida. Como era a minha primeira vez aqui deixei-me ficar mais para trás, para não atrapalhar ninguém!!


Pouco depois das 8h30 foi dada a partida, e surge o primeiro engarrafamento, na passagem do ribeiro! Como eu sempre fui da natação, não fui de modas e molhei o pézinho, para me pôr ao caminho! Ou seja, parti de trás para não ir à frente e quando dou por mim, tenho apenas meia dúzia de atletas à frente!!! eheheh

A matar saudades das águas abertas

Um pouco mais à frente os primeiros enganos (nada de grave) e depois toca a rolar até Sintra. Aqui senti-me sempre muito bem e com muita confiança. Entramos em Sintra e encontramos o primeiro abastecimento de sólidos. À saída deste abastecimento fiquei um pouco confuso porque as marcas passaram a azul em vez do laranja, mas a ajuda do "staff" colocou-me logo no caminho correto para a entrada na Regaleira. Esta é uma parte da prova que deixa de boca aberta qualquer um, pelos espaços em que passamos... A descida ao Poço Iniciático, as poldras no lago... Só foi pena a quantidade de turistas que nos fizeram parar muitas vezes, dificultando-nos a passagem! (eu sei que eles não têm a culpa!!!)

Saímos da Regaleira e apercebo-me que a coisa não ia mal de todo, ia com boa média, tendo chegado a acreditar que seria possível acabar abaixo das 9 horas... que parvoíce!!! Iniciamos a subida ao Castelo dos Mouros, por dentro do parque de merendas, junto ao Penedo da Saudade... Sinceramente não me lembrava, dos tempos das aulas de Escalada da FMH, do caminho ser tão duro... Parei duas ou três vezes para descansar... Para respirar e normalizar o pulso. As escadas são duríssimas. Os troços sem escadas ainda piores... Chego lá acima, sento-me numa rocha e comi uma barra. Os turistas olhavam para mim e riam-se (acho que alguns até com pena!!)

Descemos depois para a lagoa azul e aqui perco bastante tempo... num erro de navegação viro para o lado errado e quando me apercebo desci um km a mais do que devia em sentido contrário... agora sobes esse km!

Retomo o trilho certo e ao chegar à Lagoa Azul abasteço e sento-me um pouco a contemplar aquele lago, enquanto como qualquer coisa.

A partir daqui vinha mais um empeno daqueles. Da consulta de crónicas anteriores, apercebi-me que tinha que subir uma pista de DH... Não quatro ou cinco (perdi-lhes a conta), para além de descer outras tantas... E se as subidas eram difíceis, as descidas não eram melhores. Esta diferença em relação ao ano passado partiu-me todo! 



2014


2015

Descaradamente roubado ao Filipe (http://quarentaedoispontodois.blogspot.pt/)

Como é fácil de perceber, preparar mentalmente para uma coisa tipo 2014 e depois receber o 2015 não é muito agradável, ainda por cima quando a moral já vai muito em baixo, principalmente pela quantidade de subidas que nos ofereceram (como um participante me disse, "as subidas são lixadas para os gordinhos!" - não vou transcrever o que pensei em responder-lhe).
Não bastasse tudo isto, subam lá até à Peninha... Eh pá, tinha mesmo de ser??? A vista de lá paga tudo, mas pronto... Sem água, penei mesmo. Valeu a nascente lá no alto, com uma água fresquinha que me deu uma vida nova... 
Mais um abastecimento e descemos até à Azoia... 
Aqui conheci finalmente as arribas (WTF???)! Mas o que é isto??? Não vou criticar perigosidade, mas "não habia nexexidade,zzz ,zzzz" como diria o Diácono Remédios... Podiam ter dito que tinha ficado na estrada a pedir boleia! 

Chego ao Cabo Raso e vamos lá a mais disto... a cada nova subida apareciam-me cãimbras em músculos diferentes... Chego à Adraga e penso para mim: "Mais uma arriba e ligas para a Susana para te vir buscar". Não me deram arriba, deram-me uma rampa enorme em areia... eh pá...

Lá continuamos por cima, desço a enorme escadaria e atravesso a Praia Grande onde sou abordado por algumas pessoas que perguntam que prova é, qual a distância e quanto tempo tenho - gosto do misto de inveja e admiração quando digo que estou em prova à quase 11 horas, algo que os primeiros que fazem 6 horas não têm!!!!

Aqui começava-me a preocupar o tempo limite... 12 horas.
Apesar de já não ter pernas para correr, tento correr e ainda passo um atleta neste intervalo até à Praia das Maçãs... Desço as rochas a correr, e quando a Susana se levanta para vir ter comigo, só lhe consigo dizer que não vou correr mais, que estou cheio de cãimbras...

Cruzo a meta 11h40m depois de partir em 151º. Percorri 55,2kms com uma subida acumulada de 2705m, onde gastei 6700 Kcal. 

Pensei várias vezes em desistir (a primeira vez no Penedo em Sintra, as outras pelo meio e a ultima na Adraga, por achar que o tempo já não ia dar), mas não o podia fazer. 

Tenho que agradecer à minha mulher porque conseguiu esperar este tempo todo, acreditando que eu ia terminar, não me ligando durante a prova e à RIBAPEDAL BIKE SHOP pelo apoio ao nível de equipamento e pelas sugestões ao nível da nutrição... O gel de Magnésio fez maravilhas (Gonçalo devia ter trazido mais)!
Voltando ao inicio, não foram só os mais mal preparados que sofreram... Quando vi atletas que andam sempre à minha frente deitados no chão na zona das pistas de DH, outros que habitualmente me ganham por 45' a 1h chegarem aqui com pouco mais que isso de diferença... Todos sofremos! 

A meio do percurso jurei que nunca mais fazia trail... Hoje já olhei para a agenda...
Ah!!! este ponto já cá canta...
 


Já tenho um ponto para o UTMB 


#naohaimpossiveis #dosofaparaotrilho

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